terça-feira, janeiro 30, 2007

Babel

Nunca ninguém percebe o meu desconforto ou o meu excessivo envolvimento com certos temas. Seria muito mais confortável observar comportamentos com os quais não concordo e não tentar fazer nada. Mas eu não sou assim.
Babel não é apenas um filme sobre preconceitos. É um filme sobre a violência e a morte que os preconceitos podem gerar. Talvez por isso nunca tenha aceite pacificamente que se fale baixinho, mesmo que entre amigos, dos pretos, dos ciganos, dos brasucas, dos chinocas, dos monhés ou de outros grupos que o ocidental (branco e confortavelmente criado numa tradição judaico-cristã) se sinta no direito de discriminar. O mundo aos nossos olhos resume-se cada vez mais a Washington, Nova Iorque, Londres, Berlim, Paris, Bruxelas e Lisboa.
Babel reflecte precisamente esta visão egoísta: um tiro acidental fere uma americana que se encontrava de férias em Marrocos, provocando consequências em vários pontos do planeta. O choque causado pela quase morte de uma cidadã norte-americana, respeitosamente casada e mãe de dois filhos, e a indiferença pelo assassinato de uma criança marroquina são demasiado evidentes e cansativos, sobretudo para quem ainda acha que há esperança.
Dirigido por Alejandro González-Iñárritu, com um elenco de luxo (Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal), o filme conta já com sete nomeações para os Óscares.
É provável que o realizador nunca tenha ouvido Jorge Palma. É pena, porque a banda sonora poderia ser
Na terra dos sonhos podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal.
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual.

O problema é que eu insisto em permanecer nela.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Faltavam apenas alguns dias para realizar aquela viagem de trabalho há muito planeada. A empresa em que trabalhava precisava de um colaborador na Austrália, com um contrato de dois anos.
Sempre quisera partir assim, rumo ao quase totalmente desconhecido, sem os pés bem acentes na terra. Quando chegasse iria conhecer pessoas do mundo inteiro, fazer novas amizades, viajar muito, ... crescer, diziam todos. E ele acreditava.
Seria tudo perfeito, se não tivesse conhecido aquela rapariga no metro, e depois não a tivesse voltado a encontrar nos dois dias seguintes, até tomar coragem para lhe pedir o número de telefone. Tinha sido como nos filmes, ambos gostaram imediatamente do que viram e sentiram. Mas Pedro não queria avançar muito mais, como se aquilo que nunca chegara a dizer pudesse ser contido ou anulado.
Até que um dia ela lhe disse:
- Se não existe um futuro para nós, quero que o nosso presente seja sempre assim.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Samantha Jones

O objectivo inicial não era, de todo, gerar uma discussão entre os leitores do blog, sobretudo quando estes nem se conhecem. Em democracia o direito de manifestar as nossas opiniões é uma realidade, portanto não se zanguem, por favor!
A escolha de Samantha foi maioritária, comum a alguns leitores que se manifestaram por escrito, e a outros que me comunicaram os seus votos oralmente. Ela é a vencedora deste estudo de mercado, pelo que podemos chegar a algumas conclusões:
1) Os homens gostam (ou dizem gostar) de mulheres desinibidas, aventureiras, que lhes proporcionem umas noites de loucura, sem compromissos e sem olheiras pela manhã (já que ela dificilmente acordará ao lado deles). O seu romantismo revela-se apenas no fim da série, depois de ultrapassar um cancro de mama com um sorriso nos lábios e um optimismo à prova de bala. Tenho algumas dúvidas se os homens portugueses gostam realmente de mulheres assim, em vez de se assustarem com elas, mas concedo o benefício da dúvida e aplaudo a escolha da maioria;
2) Os homens gostam também, embora em menor número, de jornalistas loiras, com tempo para se preocuparem com a beleza, a carreira e a vida social;
3) Os homens gostam menos de mulheres inteligentes, pragmáticas, determinadas e profissionalmente realizadas, talvez por dedicarem menos tempo à beleza e à vida social (apesar disso existem ainda fãs do género, portanto amigas continuem à procura);
4) Os homens não gostam, de todo, de formar parte de um sonho encantado ou de encarnarem o príncipe montado num cavalo branco (até porque isso lhes dava muito trabalho).

E como já estou a dar demasiada importância ao que os homens querem, gostam ou acham que admiram (já estavam a estranhar, confessem), aqui fica um link para as minhas leitoras. É um teste da Rádio Comercial que pergunta "Se fosse uma personagem do Sexo e a Cidade qual seria?".

http://radiocomercial.clix.pt/destaques/quizz/sexo_cidade/index.asp

Aqui a Deeper é a Miranda: "Você tem um espírito independente e proclama alto e bom som que o amor não é prioridade – o que não deixa de ser verdade, mas esconde também algum medo de ficar só. É muito opinativa e mesmo sarcástica."
Da última parte não gostei muito, mas não há nada a fazer. Já ter uma relação estável e um filhote não me desagrada, embora prefira esperar mais uns aninhos pela segunda parte.
Prometo voltar em breve, com outros temas menos comerciais e mais deeperianos. Até lá, façam o favor de aproveitar as coisas boas da vida!

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Sexo e a Cidade



O Coisas Boas da Vida vem por este meio iniciar um estudo de mercado exclusivamente dedicado aos seus leitores masculinos (para que nós mulheres possamos ter alguns esclarecimentos). O debate não irá a referendo no próximo dia 11 de Fevereiro, sendo o tema escolhido (apenas aparentemente) mais simples. A pergunta de partida é a seguinte:
Qual a sua personagem preferida da série Sexo e a Cidade?
A) Miranda, a conceituada e pragmática advogada;
B) Samantha Jones, a descomplexada e bombástica relações públicas;
C) Charlotte York, a romântica e bela historiadora de arte;
D) Carrie Bradshaw, a jornalista e personagem principal da série.

Agora é só comentar. Aguardo e agradeço desde já a atenção dispensada. ;)

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Mais Barbara Kruger




Barbara Kruger já apareceu algumas vezes neste blog. A fotógrafa/publicitária/designer utiliza as suas imagens como verdadeiras armas do ultranomeado quarto poder, sempre complementadas com discursos verbais sintéticos e expressivos. Acusada de demasiada frontalidade e impulsividade (deve ser por isso que me identifico com a senhora) Kruger não deixa muito espaço à contemplação que geralmente devotamos às obras de arte. Os seus posters, cartazes e outdoors são utilizados de modo a tornar a recepção dos trabalhos pública e democrática, com uma percepção imediata. A fruição não é contemplativa ou duradoura, mas sim instantânea e fragmentada. Assim vos deixo, já que não são necessários mais comentários.

domingo, janeiro 07, 2007

Waiting on an angel



Waiting on an angel.

One to carry me home.

Hope you come to see me soon,

cause I don't want to go alone,

I don't want to go alone.

Now angel won't you come by me.

Angel hear my plea.

Take my hand, lift me up so that I can fly with thee,

so that I can fly with thee.

And I'm waiting on an angel.

And I know it won't be long

to find myself a resting place in my angel's arms,in my angel's arms.

So speak kind to a stranger,

cause you'll never know,

it just might be an angel come,

Oh- knockin' at your door, Oh- knockin' at your door.

And I'm waiting on an angel.

And I know it won't be long to find myself a resting place in my angel's arms,

Oh- in my angel's arms.

Waiting on an angel.

One to carry me home.

Hope you come to see me soon, cause I don't want to go alone,

I don't want to go alone, don't want to go, I don't want to go alone.

Num século de modernas tecnologias de comunicação (messengers, hi5s, blogs e afins) é cada vez mais difícil comunicar com o vizinho do lado ou conhecer outras pessoas, sobretudo se necessitarmos de várias oportunidades para dizer alguma coisa interessante (isto soa-me familiar) ou não nos encontrarmos nos nossos melhores dias. Este conselho Speak Kind to a Stranger cause you'll never know pareceu-me ajustado, com a vantagem de vir de uma das minhas paixões eternamente condenadas ao platonismo. Ben Harper no seu melhor e o Coisas Boas da Vida a tentar mudar de assunto (e de perspectiva).

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Alguien

Alguien se vuelve sobre mi quejosa soledad,
algún respiro alguien me da con despreocupación.
Volcado sobre mis papeles no he reparado, viene un alguien que se va...

Alguien es sólo un buen objeto,
una mirada, un buen recuerdo,
a veces es un candil,
o un camisón de dormir,
una cigarra un nuevo cielo,
una palabra desde lejos.
Alguien lo es todo a la vez
y todo pasa después.

Mas yo sé que alguien me buscó tanteando un baño gris,
Yo sé que alguien suavizó mi forma de vivir.
Y esta querida tempestad que en mi bolsillo va sufriendo por la luz.

Alguien es sólo un buen objeto,
una mirada, un buen recuerdo,
a veces es un candil,
o un camisón de dormir,
una cigarra un nuevo cielo,
una palabra desde lejos.
Alguien lo es todo a la vez
y todo pasa después.

Silvio Rodriguez

terça-feira, janeiro 02, 2007

Sem passas nem desejos, apenas com expectativas

Pouco antes da meia-noite faltou a luz. Saímos à rua sem champagne nem passas. Pela primeira vez não pedi desejos ao mesmo tempo que tentava engolir doze passas, nem recordei os que amo e me fazem falta. Acho que pela primeira vez não pensei em nada.
Nunca como este ano a velha e gasta expressão "Ano novo, Vida nova" se aplicou tanto aos meus próximos tempos. O que deixei em 2006 começa a tornar-se uma doce lembrança e faz-me sentir, apesar de tudo, uma privilegiada.
Sem pedidos feitos, nem resoluções para 2007, mas mantendo os sonhos e as expectativas que ainda não deixaram de me caracterizar, parto para novos desafios. Só para contrariar, os pedidos não feitos podiam realizar-se...