terça-feira, julho 29, 2008

Déjà vu

Se a paixão for efémera e o amor uma memória, talvez o primeiro amor seja o mais perfeito, o mais puro. E se assim for, se só ele puder ser mais que tudo, é ele o único, o que não termina, aquele de quem não se pode escapar, por mais voltas que a vida dê… A teoria é formulada após dias de insistentes lembranças, reforçados pela força das saudades que não lembravam sentir, até ao dia do reencontro. Seria verdade? Só assim faria sentido aquela certeza partilhada de que o próximo beijo seria igual ao primeiro, igual ao último, igual a todos aqueles que reconstruíram separados, colocando as pontas dos dedos nos lábios e voltando a sentir-se, a estar presentes. Tinham passados anos… Se o primeiro amor fosse o mais perfeito seria o que permanece, o verdadeiro, o que justifica uma vida, o que se distingue dos outros, o que só se sente uma vez. Se um dia, à beira do rio, disserem a alguém «gosto muito de ti», enquanto trocam beijos menos inocentes que os vossos tenros anos, mesmo não sabendo que o futuro irá trazer outros caminhos, outras pessoas, outros desejos, outros corpos, tenham cuidado. Sem querer podem estar a viver o primeiro amor. Sem querer poderão um dia separar-se dele. Sem querer poderão um dia reencontrá-lo.

sexta-feira, julho 25, 2008

Pedaço de céu

À procura de nada. À procura de coisa nenhuma.
Todos os dias ao fim da tarde cumpre a mesma rotina. As sete horas diárias que pagam as contas termiram e dão lugar ao pedaço de céu. Avista-o de baixo, na horizontal, ajeitando as costas aos percalços da relva e os ouvidos aos ruídos dos pássaros, às conversas dos namorados, dos amigos e dos outros, dos que, sózinhos, também não conversam.
São 10/ 15 minutos de nada e de coisa nenhuma. Sem livros, caderno de notas ou auscultadores nos ouvidos. Sem sonhos, ambições, horas, pensamentos. Sem posições de yoga, sem guitarra, sem desculpa para estar ali. Sem nada, sem coisa nenhuma.
Nos beijos que um casal troca adivinha segredos. Na guitarra que se ouve ao fundo sente um talento sem sorte, para sempre enfiado na gaveta. No livro que vê ao fundo conspira uma história bem mais interessante que a narrada.
Não quer saber. Não amaldiçoa a sorte. Não tem saudades de outros tempos em que a rotina não tinha tomado conta do seu casamento, em que os beijos da mulher eram insuficientes, em que o tempo de prazer era muito mas sempre escasso. Está ali à procura de nada. À procura de coisa nenhuma. E sente-se bem assim.

sábado, julho 19, 2008

Lost in Translation


E se um dia descobrir que a só a insatisfação é permanente? E se um dia perceber que a paixão dura um segundo? E se um dia tiver a perfeita noção que o amor é um lugar tão estranho que a muito poucos é dado o privilégio da permanência? E se as dúvidas nunca terminarem? E se a fidelidade for uma utopia? E se o meu espaço não puder ser partilhado? E se o meu egocentrismo vencer sempre? E se tu não existires? E se fores apenas produto da minha imaginação? E se o meu optimismo estiver errado? E se, para além disto, não existir mais nada? E se eu nunca conseguir dizer «nós»? E se a vida for só dois dias e não conseguirmos ter sequer tempo para tomar um café? E se eu nunca for capaz de o dizer? E se, quando te encontrar, não tiver chegado o momento certo? E se esse momento já tiver passado? E se já nada fizer sentido? E se não conseguirmos dizer nada? E se não podermos fazer nada? E se formos, de novo, separados? E se nenhum de nós for capaz de compreender? E se só eu perceber? E se fizermos confusão? E se o sentido das palavras que trocarmos ou não dissermos ficar perdido na tradução? E se…

domingo, julho 13, 2008

ESFHP 95-98

Cafés românticos, tristes, melancólicos. Encontros de fins-de-semana que juntam memórias, vivências, projectos e vidas que continuam a fazer sentido.
Alguém os definiu assim, como uma espécie de insulto, ecologicamente reciclado para a melhor descrição e elogio possíveis. Unidos por turmas de liceu onde as letras davam o mote e fervilhavam em mentes artísticas, filoóficas, inconformadas... Separados por cursos de direito, comunicação e outras literaturas, em cidades onde o Tejo e o Mondego passaram a guardar memórias, sem que o Zêzere e a serra deixassem de ser a nossa casa.
Anos de adaptações, crescimento, erros, revisão de prioridades, cabeçadas na parede, vitórias e lágrimas (das de alegria e das outras). Anos de decisões arriscadas, objectivos ambiciosos: a pressão de não desiludir e de corresponder às familiares expectativas. Anos em que os valores se consolidaram e nos tornámos melhores pessoas, melhores seres humanos, melhores amigos. Anos que, mesmo separados, acabámos por partilhar de alguma forma. Por isso, o nosso café é sempre romântico, triste, melancólico. Também por isso ele tem um sabor especial, ao das coisas boas da vida.

Nem todos os posts deste blog são auto-biográficos, o que equivale a dizer que a minha vida sentimental não é tão interessante quanto parece. No entanto, este post sou mesmo eu (somos mesmo nós) da primeira à última linha, o que equivale a dizer que tenho muita sorte com os Amigos que fui fazendo ao longo da vida.