quinta-feira, setembro 25, 2008

Fim

No princípio, achava piada a todas as nossas diferenças. As coisas que ele sabia: a capital do Botswana, os nomes de todos os reis de Portugal, a distância da Terra ao Sol, os poemas de Herberto Hélder, as teorias filosóficas de Hegel, Nietzsche e Schopenhauer, as sinfonias de Bach…
Eu sou cabeleireira, podem perguntar-me tudo sobre tintas, técnicas de brushing, massagens capilares, que eu respondo. O que tínhamos em comum? Nada. Mas eu gostava que assim fosse, e os nossos filhos também. Perguntas intelectuais faziam ao pai. Coisas assim mais práticas já sabiam que tinha que ser eu a resolver.
As pessoas costumavam dizer «Equilibram-se um ao outro». E equilibrávamos. Éramos um casal lindo de morrer, uma família tão feliz que só visto. Ninguém desconfiava.
Até ao dia em que nos separámos.
«O que se passou?» perguntaram algumas almas escandalizadas, mais curiosas do que propriamente com vontade de ajudar no que fosse preciso. Pouco tempo depois já tinham caído em si e alterado a exclamação: «Realmente, eles sempre foram muito diferentes! Como é que podia ter resultado?»
Nada disso. Eu gostava das nossas diferenças. Durante muitos anos fui feliz. Agora, simplesmente, acabou o amor. Não adianta inventar desculpas. Não me cansei de ser eu a mudar lâmpadas, pendurar quadros, planear as férias, pagar as contas da casa, tomar decisões. Também sei que ele continua a gostar da minha falta de cultura geral, a que, muito carinhosamente, sempre chamou pragmatismo. Mas já não nos amamos. Não estou feliz por ter chegado a esta conclusão, mas não há outra desculpa. Simplesmente acabou.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Mamma Mia



O filme vale pelo solo desafinado da minha actriz preferida. No fim da sessão, baralho o calendário e tenho dúvidas existenciais. Uma música escrita nos anos 60 que antevia um final de Verão do século XXI? Premonição ou repetição de vidas, situações e sentimentos? O egoísmo vence e escolhe a primeira opção. Esta história é única, irrepetível.

segunda-feira, setembro 15, 2008


«O meu maior desejo sempre foi o de aumentar a noite para a conseguir encher de sonhos.» - Virginia Woolf

quinta-feira, setembro 11, 2008

Carteira, chaves, telemóvel, óculos, bomba de ar, lenços de papel, pastilhas para a garganta. Está tudo. Por que é que tenho a sensação que me estou a esquecer de alguma coisa? Onde é que eu deixei o que falta de mim?

terça-feira, setembro 09, 2008

Verão 2008

Os meses de Verão foram equivalentes a muitos quilómetros de estrada e muitas passagens pelas rádios nacionais. A produção portuguesa, felizmente, esteve melhor que há dois anos atrás, quando André Sardet resolveu reciclar, em acústico, um antigo êxito seu que parecia perseguir-me por todo o lado. Que me perdoem os fãs, mas nunca consegui achar brilhante uma declaração de amor que dissesse «Eu não sei o que me aconteceu, foi feitiço o que é que me deu, para gostar tanto assim de alguém como tu…». Como tu? E o surpreendente é que muitos casais perdidamente apaixonados e felizes com os seus companheiros, não se cansavam de dizer isto um ao outro. «Como tu?» Quem é que o rapaz se julga?
Felizmente 2008 trouxe mais e melhores novidades na língua de Camões. Os Klepht, uma banda de Lisboa que jura a pés juntos ter começado a fazer música por mero acaso, conquistaram-me com uma letra simples, uma voz poderosa e uma balada que relembra os saudosos anos 90, para dançar abraçadinha ao primeiro amor, nas festas das quartas-feiras à tarde. O videoclip também é despretencioso, num hino às coisas muito boas da vida.
Rasgas-me a roupa sem qualquer pudor
Enquanto buscas o ar pela boca
Passeias o teu cheiro no meu corpo
Por entre os braços, misturo tudo
Após o prazer ficaremos mudos
Sem saber
Se é por uma noite…





Outra (muito agradável) surpresa deste Verão foi a junção de alguns ex-membros dos Ornatos Violeta e dos Blunder no projecto Perfume. Com sotaque do Norte, Rui Veloso deu uma mãozinha e, em conjunto, produziram Intervalo. Ninguém quer deixar uma história de amor a meio, sobretudo quando se acredita que ainda há tanto para dar e tantos momentos para ser feliz!
Não me deixes
Na história que não terminou
Não me deixes
No livro que eu não li
No filme que eu não vi
Na foto onde eu não entrei
Notícia do jornal
O quadro minimal
Sou eu.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Chuva


As coisas vulgares que há na vida não deixam saudade
Só as lembranças que doem ou fazem sorrir
Há gente que fica na história da história da gente
E outras de quem nem o nome lembramos ouvir...
Pedimos emprestadas as palavras ao fado e escolhemos a banda sonora de um momento perfeito, a música de uma vida que deu tantas voltas.
Podia escrever um livro com 200 páginas que contasse uma história de amor, mas elas não conseguiriam dizer mais que estas quatro linhas.

quinta-feira, setembro 04, 2008

Acordei feliz.
Não tinha despertador.
Abri e voltei a fechar os olhos com a serenidade de um dia especial. Espreguicei-me. Voltei-me para o outro lado e continuavas ali. Vivi a magia do momento, prolonguei o carinho da noite passada.
Tu. Abriste os olhos com a serenidade de um dia especial. Olhaste para mim como se não existisse mundo lá fora.
Passados alguns segundos, quando realmente acordo, o sonho desfaz-se, mas a desilusão não custa. Foram segundos maravilhosos.

segunda-feira, setembro 01, 2008

«Primera Lectura: Cantar de los Cantares 8, 6-7
Grábame como sello en tu corazón, como sello en tu brazo, porque el amor es más fuerte que la muerte, la pasión mas implacable que el abismo.
Sus llamas son flechas de fuego, llamarada divina. Los océanos no podrán apagar el amor, ni los ríos anegarlo.
Palabra de Dios.»