domingo, outubro 15, 2006

Linha do horizonte



O horizonte varia consoante a altura que temos. Só não varia nunca o ser variável, enquanto horizonte que é, ainda que por absurdo se atinja. Porque não é nunca o horizonte que nos fascina mas a distância a que ele está.
A história do homem é a das utopias. Mas é decerto também a do que nelas se conquistou. Somente a utopia não pretende realizar-se, como o desejo que se cumpre não esgota o desejar. De todo o modo, após o desejo e o que se conquistou há uma pausa. E isso dá para se respirar um pouco. É quanto basta, diz o do progresso. Mas não bastou, diz o da inquietação. E a razão está com os dois. Porque se um sonha com a morte, o outro sonha com a vida, ou seja com o excesso, que é a sua medida. Deus condenou Adão não bem à infelicidade, mas a uma felicidade que fosse o seu impossível.
Nas utopias que até hoje se imaginaram faltou sempre imaginar o que aconteceria depois. Que se imagine uma vida em que se realizasse tudo o que se desejasse. Alguma coisa faltaria ainda em tudo o que já não faltava, e não saberíamos o quê. É isso que não sabes que é o fundamental.

Pensar - Vergílio Ferreira