sábado, dezembro 16, 2006

Mulher em Branco

3:30 da manhã e o sono teima em não aparecer. Na mesa de cabeceira uma Mulher em Branco, de Rodrigo Guedes de Carvalho parece dizer já que não consegues dormir aproveita-me!
Poucas linhas depois do início a pergunta que não devia estar ali, porque o livro está assinado com outro nome que não o meu: Para onde vão os amores que foram um dia?
Em vez de pegar no livro podia ter-me levantado e bebido uma chávena de café bem forte que o efeito seria o mesmo. Fiquei a pensar, por motivos demasiado óbvios nos últimos tempos, no que a frase questionava. Para onde vão eles, os que deixaram de fazer sentido e já não voltam? Teremos todos uma caixinha em casa, guardada no canto de um armário, com as fotografias, os desenhos, as cartas, os presentes mais simbólicos e os cds gravados? A mesmo caixa para onde olhamos quando temos saudades e dúvidas. Teremos todos uma caixa assim?
E haverá por acaso um departamento celestial com vários ficheiros, organizados alfabeticamente, sobre os amores vividos e terminados? Poderemos consultá-lo? Chegávamos, preenchíamos uma ficha com os nossos dados e pedíamos informações relativas a um casal:
Maria Amélia Santos Lopes e Jorge Pedro Gomes
Tempo cronológico da relação: 5 anos
Motivo da separação: fim do amor
Principais sintomas anteriores à separação: cansaço, apatia, dúvidas existencias de parte a parte, poucos planos a dois, muitos eus nos princípio das frases, em substituição do anterior sujeito nós,...
Um departamento assim até pode existir, bem como as caixas. Alguém que nos diga o que fazer com o que fica depois é que nunca consegui encontrar.
Mas continuo à procura.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não sei se todos têm uma caixinha. Eu tive uma e um dia num acesso de fúria (ou de bom senso) deitei-a fora. A caixa em si era inocente mas aquilo que ela representava desafiava-me cada vez que abria o armário.

Mas o que fazer com as coisas que não podemos deitar fora?

- As lembranças que nunca chegaram a sê-lo pq nunca esquecemos.

- A esperança que sempre nos ensinaram a não deixar morrer.

- O que não foi dito, o que não foi feito...

- Os sentimentos que nunca se materializaram.

Eu tenho uma ideia. Essas lembranças transformam-se em mágoa que nos vai acompanhar para sempre. Desgastando, moldando, polindo... Deixando a descoberto aquilo de que somos feitos.

Eu não me arrependo de me ter livrado da caixinha mas ás vezes penso que parte de mim (o resultado da erosão pela mágoa) está, muito provavelmente, enterrada sob toneladas e toneladas de lixo... Não é uma imagem muito edificante, pois não?

2:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Oh meu, larga lá a caixinha e vamos ali beber um copo e comer um chouriço !

4:38 da tarde  
Blogger Deeper said...

Pois, o JD é capaz de ter razão. Há-de chegar uma altura em que nos cansamos dos nossos próprios dramatismos e em que também eles deixam de fazer sentido.
Não há nada como voltar a estar feliz e sentir umas borboletas na barriga. Eu ainda não tive essa sorte, mas sei que voltará a acontecer. Sou uma romântica incorrigível, nada a fazer!

Quanto às caixas, lembrei-me que deviam existir ecopontos especiais para elas: reciclávamos tudo para não restarem as tais mágoas e os sentimentos que nunca se materializaram. Não estou a ser irónica, acho mesmo que é a maneira mais saudável de viver: guardar só o que é bom de guardar.
Por esta altura já tenho os leitores do meu blog a dizer: "Ainda não aprendeu!". Vocês conhecem-me, gosto das coisas boas da vida e entre elas está certamente sentir as tais borboletas.
Senhor do mundo lembre-se que não adianta pensar no que poderia ter sido, mas sim no que ainda pode vir a ser. Hoje não estou inspirada e este comentário parece uma sucessão de lugares comuns. Mas se calhar a vida é feita deles e por isso é que nos identificamos tanto com algumas músicas, livros ou filmes - há sentimentos que são universais e já quase todos vivemos um grande amor que não terminou como desejámos.

Segue o conselho do JD. Se o programa não for exclusivamente masculino eu também vou, e lembro-me de mais duas non blondes que de certeza também alinham.

6:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O JD tem razão e por isso ontem fui comer chouriço e morcela (infelizmente não era morcela de arroz - o orgulho dos leirienses) e beber jeropiga. ;)

A deeper também tem razão. A nossa vida é uma sucessão de lugares comuns. Só tive a noção disso há pouco tempo. Ainda não aceito isso muito bem...

Quanto aos ecopontos para as caixinhas, é uma boa ideia. Mas eu sou por afogar as mágoas no álcool... :) e voltamos á sugestão do JD...

Quem tem mm razão é o JD... isto resolve-se numa "petiscaria". O q é q dizes JD? Achas que devemos aceitar a participação destas 3 babes non blondes no nosso circuito dos petiscos? Até agora era um programa exclusivamente masculino mas se vocês alinharem eu prometo (ainda não sei como) controlar a minha pituitária anterior (vulgo hipófise) que segrega a hormona que controla a produção da testosterona. :) Ou seja, prometo tentar controlar os meus impulsos viris e não vou arrotar, cuspir para o chão ou "piropar" na vossa presença.

Tenho de ter particular cuidado com a deeper que sendo uma acérrima defensora dos direitos da mulher, estará certamente atenta ao mínimo deslize. :D

11:03 da manhã  
Blogger Deeper said...

A hipótese de considerarem a nossa participação no circuito dos petiscos é muito generosa da vossa parte. Estou comovida, sim senhor!
Vou ver se me lembro de agradecer ao coelhinho da Páscoa, que o Pai Natal já me fez muitas vontades e já deve estar comigo pelas barbas.
:p

10:56 da tarde  

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