quarta-feira, março 21, 2007

Um dia alguém me disse, como tocado por uma súbita inspiração divina: “se pudesse gostava de lhe oferecer (à musa inspiradora) a Primavera”. Esperava impressionar-me com a sua poesia, ou tocar-me pelos bons sentimentos que o inundavam. Quando estamos apaixonados queremos que todos à volta também se apaixonem e nos compreendam nesta cegueira imensa, porque tudo é lindo e inspirador.
Não me impressionou. Desconhecia o meu desinteresse por amores perfeitos, com poemas cor de rosa próprios para todas as idades, suspiros e contemplações.
Se eu pudesse, não oferecia a Primavera. O meu amor é interessado, imperfeito. Não mendiga nada, mas espera sempre receber em troca. Reclama, exige, espera.
O meu amor não é a Primavera, nem a pureza dos jardins com flores e pássaros a chilrear. O meu amor é o Verão e as noites quentes, a praia, o calor e o céu imenso. O meu amor é o Inverno, as noites frias, as trovoadas e a lareira. Se eu pudesse dava-te a chuva e os dias cinzentos. Esperava que em troca me desses a imperfeição, a profundidade, o mistério, a não evidência, a dúvida e o pecado.

2 Comments:

Blogger Reflexo said...

Os Amores podem ser sempre quatro Estações!

11:00 da manhã  
Blogger pedro said...

O teu amor é o amor verdadeiro.

3:34 da tarde  

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