sexta-feira, julho 25, 2008

Pedaço de céu

À procura de nada. À procura de coisa nenhuma.
Todos os dias ao fim da tarde cumpre a mesma rotina. As sete horas diárias que pagam as contas termiram e dão lugar ao pedaço de céu. Avista-o de baixo, na horizontal, ajeitando as costas aos percalços da relva e os ouvidos aos ruídos dos pássaros, às conversas dos namorados, dos amigos e dos outros, dos que, sózinhos, também não conversam.
São 10/ 15 minutos de nada e de coisa nenhuma. Sem livros, caderno de notas ou auscultadores nos ouvidos. Sem sonhos, ambições, horas, pensamentos. Sem posições de yoga, sem guitarra, sem desculpa para estar ali. Sem nada, sem coisa nenhuma.
Nos beijos que um casal troca adivinha segredos. Na guitarra que se ouve ao fundo sente um talento sem sorte, para sempre enfiado na gaveta. No livro que vê ao fundo conspira uma história bem mais interessante que a narrada.
Não quer saber. Não amaldiçoa a sorte. Não tem saudades de outros tempos em que a rotina não tinha tomado conta do seu casamento, em que os beijos da mulher eram insuficientes, em que o tempo de prazer era muito mas sempre escasso. Está ali à procura de nada. À procura de coisa nenhuma. E sente-se bem assim.

2 Comments:

Blogger pérola said...

Há qualquer coisa de mágico nos teus textos que nos prendem o olhar...
Faço parte dos leitores assíduos do teu blog e por isso quero deixar-te uma palavra de incentivo para que continues a escrever e surpreender neste espaço!

12:01 da tarde  
Blogger The White Scratcher said...

Passo o dia a dia a desfazer as pequenas rotinas obrigatórias. Gosto de passar os dias como se cada um fosse um único, novo, como se o mundo fosse a cada dia diferente. Situações, imagens, palavras, rabiscos, são o início de uma viagem, da possibilidade de pensar e inventar histórias novas todos os dias. Podem ser 10/15 minutos diários e podem ser os que nos fazem sentir vivos e ganhar o dia. Tenho sempre comigo bolachas para as visitas e fatias de céu.

7:33 da tarde  

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