domingo, agosto 10, 2008

Nunca tinha acreditado no amor à primeira vista. Para dizer a verdade, começava a duvidar da existência do mesmo à segunda, à terceira, à quarta,… Ou melhor, não seria propriamente duvidar da sua existência, era mais pensar que, sendo um sentimento tão nobre quanto o descreviam, dificilmente teria a sorte de o viver.
Depois, a ironia começava a tomar-lhe conta dos dias. A paciência para os filmes românticos, para as histórias das amigas e para os exageros próprios de seres apaixonados começava a esgotar-se. O que levava algumas pessoas a perder a cabeça, realizar perseguições sem tréguas, lutar por algo que acreditavam pertencer-lhes? A dependência de alguém assustava-a de morte.
Mantinha-se na ignorância, ouvia e tentava ajudar, sem nunca se identificar com tamanhos exageros. Mas a distância que mantinha em relação a tudo (a mesma que parecia tranquilizar algumas pessoas, transmitindo-lhes a calma necessária para chegar a algumas conclusões) começava a assustá-la. Podia ser frieza, insensibilidade. Até que um dia percebeu que era apenas uma forma diferente de encarar as coisas, uma forma mais zen e mais livre de amar. Nem por isso menos dolorosa.
- Espero que a conversa corra bem e que possam resolver todos os vossos problemas.
- Estás a ser irónica?
Não estava. Naquele momento, vinha-lhe à memória uma música antiga, que passava a ter novo significado...
They say if you love somebody
Then you have got to set them free

Nos dias seguintes recordou os outros versos, os que custavam mais a lembrar.
But I would rather be locked to you
Than live in this pain and misery
They say that time will make all this go away
But it's time that has taken my tomorrows and turned them into yesterday
And once again that rising sun is a droppin' on down
And once again you my friend are no where to be found
(Walk away – Ben Harper)

4 Comments:

Blogger Unknown said...

Pode ser frieza ou insensibilidade, claro que pode,,,, mas na maioria dos casos diria que se trata de medo,,,,, ,, medo de nos magoarmos, medo de sentir demasiado e depois termos de nos arrepender, medo de podermos sentir a falta de alguem, medo de dependermos, medo de nos sentir demasiado bem e de um momento para o outro de nos faltar a terra por baixo dos pés, medo de sentir que estamos vivos e não conseguirmos lidar com isso para sempre. Melhor vivermos na ignorância, porque ninguem tem falta daquilo que não conhece.

12:02 da manhã  
Blogger anDrEIA said...

Nosso Ben Harper e suas canções sábias :)

12:45 da manhã  
Blogger Catwoman said...

Os nossos medos andam de mãos dadas com as pessoas erradas e muitas vezes são mais fortes do que as pessoas certas. O que é normal, uma vez que certo e errado são noções subjectivas e abstractas, difíceis de definir. O medo é muito mais concreto e vence na maior parte dos casos. Pela parte que me toca, gosto de acreditar que existem excepções...

Essa aparente frieza e insensiblidade são muitas vezes defesas que vamos ganhando contra o mundo. Contra a dor, contra as noções pré-definidas onde não cabemos mas onde nos insistem em pôr.

Continua a escrever, sempre :)

Beijinhos

3:21 da manhã  
Blogger pedro said...

Também sou dos teus, a começar a duvidar do amor, de tudo e de todos. Mas às vezes levam-se meses ou anos até olhares para aquele alguém de uma forma especial e diferente. E aí tudo pode começar :-)

3:30 da tarde  

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