terça-feira, dezembro 26, 2006

O amor não tira férias



Devias saber que não era a melhor altura para ver comédias românticas. Ainda assim insististe. Devias também saber que um título destes não augurava nada de bom, mas continuaste a insistir. O amor não tira férias. O teu raciocínio rebuscado começa a criar analogias: estaria o nome relacionado com o facto de, hoje em dia, as pessoas trabalharem sobretudo a recibos verdes, e portanto não terem sequer direito a subsídio de férias? Alguns dirão que, neste caso, têm a vantagem de fazer os seus próprios horários. No entanto, a maioria das vezes trabalha-se mais (aos fins de semana por exemplo). Os imprevistos são maiores, as surpresas também, mas o risco aumenta e nem sempre se está preparado para o que vai acontecer - no trabalho e no amor que, como passaste a saber, também não tira férias. A analogia pode até continuar: nos dias que correm já ninguém está efectivo num posto de trabalho. Começa-se por um longo período de experiência, depois assina-se um contrato a termo (onde se ganha mal, com a suposta vantagem de se poder continuar a fazer uns trabalhos por fora) e só depois, os mais corajosos ou aqueles que têm essa oportunidade, assinam um contrato por tempo indeterminado (que podem corresponder aos casamentos, para onde também já ninguém parte tendo em vista as bodas de prata). Lugares de função pública, sentado a uma secretária, tentando chegar à conclusão de quem faz menos até à idade da reforma, já não existem. Como as uniões para toda a vida.

O filme não é brilhante, e foi feito para Cameron Diaz ter mais um momento de estrelato. O primeiro leitor masculino que não goste da pequena, ou de Meg Ryan, que atire a primeira pedra. São perfeitas, têm um ar querido, loirinhas, fofinhas e, como se não bastasse, parecem sempre dizer a coisa certa no momento certo. A Jude Law bastaram-lhe cinco minutos para se apaixonar (por Cameron), como os restantes leitores devem compreender. A perfeição em pessoa, poderão dizer.

No meio de tudo isto, quem deu conta de Kate Winslet, bem mais discreta, num personagem muito mal explorado por Nancy Meyers (Alguém tem que ceder)? Ninguém. Apenas as duas Kates Winslets que estavam na plateia, qual actrizes secundárias, eternamente preocupadas com o mundo em geral e alguns seres mais desprotegidos em particular. Só estão bem onde não estão, sendo necessários muito mais que cinco minutos para proferirem uma frase sem um ataque de dislexia. Esperemos que a identificação se reproduza até ao final, até porque ambas preferem um Jack Black (imperfeito, longe dos estereótipos de beleza contemporânea, pouco perspicaz e que também nem sempre diz a coisa certa no momento certo, mas com muito sentido de humor) a um Jude Law lindo de morrer. Vamos os dois celebrar a vida (e as suas coisas boas) e o facto de sermos jovens?

8 Comments:

Blogger pedro said...

Eu prefiro a Kate Winslet...

9:52 da manhã  
Blogger Deeper said...

Pois mas isso é porque tu és um homem de bom gosto, e um querido!

6:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

De la película, mejor ni hablar... prefiero decir que a veces, las personas "menos perfectas" son las de mejor corazón. Ya sabes nena que tu y yo necesitamos muchas oportunidades para decir las palabras correctas.
Pero también quiero rescatar el hecho de que íncluso 2 personas a las que les han roto el corazón, pueden reconocerse en una belleza tal vez invisible a los ojos de una sociedad perfeccionista, pero no por ello menos verdadera.
Somos unas Kate Winslet... ojalá que nuestro Jack Black esté a la vuelta de la esquina.
Beijinhos nena!

7:06 da tarde  
Blogger Miss Vesper said...

Não vi o filme, pelo menos ainda não. E pelo menos também ainda a minha mãe, digna fã de comédias românticas, não teve tempo para me arrastar com ela para o "amor não tira férias". Nunca fui fã da Cameron e não se pode comparar a uma Meg Ryan que até é boa actriz. A Cameron recorre apenas a papéis portateis, faceis de trazer por casa. O único papel em que gostei de a ver foi no Being John Malkovich, precisamente por nao ser ela ou pelo menos por não ser a loira barbie de beleza obvia. Eu prefiro a Kate Winslet como actriz e como entrevistada, não tem medo de parecer a maior pateta e tem graça na forma como diz as coisas no seu maneirismo very british. Quanto ao enredo em si, trocar de vidas é uma interessante premissa se fosse levada além da comédia romântica. Como diria o personagem V: we wear masks all our lives, to a point that we then can't recognise what's underneath. Seria um interessante tema se tratado desse modo. Mas não interessa, é rentável, é natalicio e como bom marketing expert diria: a estrear na altura certa. A prazo funciona tudo, seja trabalho, seja o que for. A propria vida tem um prazo, pena ninguem saber em que parte do corpo está colocada a validade, senao já a teria lido. E o mundo nao seria tão egoista, pk afinal se existe um prazo, não havia necessidade de tratar os outros como merda. Por fim, um dia e outro, basta senti-los, ouvir pelo silêncio,nada mais. E isso sim, nao tira ferias ou pelo menos nao devia: ouvir!
bjinhos cris

1:33 da manhã  
Blogger Deeper said...

Ai Cris era tão bom que fizesses uma pequena ideia do ser humano fantástico que és! Tinha muitas saudades tuas, estava preocupada com a tua ausência e espero que nesta nova fase da minha vida tenhamos mais tempo uma para a outra.
Também não gosto muito desta época do ano, sendo que esta custa ainda mais um bocadinho. Quero pensar que nas 12 badaladas já terei alcool no sangue suficiente para não pensar no que ficará em 2006.
Beijinhos linda!

2:23 da tarde  
Blogger anDrEIA said...

Gostei da tua analogia: amor e mundo do trabalho ;) Kto ao filme em si, dá uma espreita no meu blog e vê o post ;)
Fica bem
*baci*

10:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Boa Noite, vivemos em um mundo democrático, com todo respeito venho aqui descordar da crítica que você fez sobre o filme "O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS". Um filme muito bem feito, onde Kate Winslet roubou a sena totalmente interpretando uma mulher culta, personagem que não cai bem na Camaron Dias. Kate fez um papel tão brilhante que isso pode lhe render uma indicação ao Oscar como melhor Atriz (www.oscar.com). Kate é uma atriz que escolhe seus papéis, uma mulher que não precisa de agente para conseguir papéis importantes e de destaque, como (EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS, IRIS E O AMOR NÇAO TIRA FÉRIAS). Respeito todas opiniões expressas aqui, mas afirmo mais uma vez que a Kate teve uma interpretação fantástica.

11:59 da tarde  
Blogger Deeper said...

Pois, de facto, a Kate teve uma boa interpretação, o filme é que não está à altura, para o caso de não ter percebido o meu post. O que eu disse foi que me identifiquei demasiado com o seu personagem, o que em nada a diminui. Comentários são sempre bem vindos, sobretudo se vierem do outro lado do oceano.

3:46 da tarde  

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