Sexta-feira, sete da tarde de um dia que não inaugura um fim-de-semana. São as minhas desejadas férias. Uma sensação zen invade-me o corpo e começo a desligar da realidade. Sem recurso a massagens, dispenso as velas e a música chill out.
Tenho tempo. Tempo para deixar o tempo passar devagar.
Por uns dias deixarei de organizar a vida como se de uma agenda se tratasse. Deixarei de estabelecer metas e objectivos. A ideia já me delicia.
Nos próximos dias não vou pensar se estamos bem, se estou melhor contigo ou sem ti. Deixo as decisões para mais tarde e encarrego o destino de nos conduzir: não por fé, mas pela preguiça que me invade, sem que eu lhe ofereça resistência. O amor acontece naturalmente.
Temos tempo. Tempo para viver um amor imperfeito, nem preto, nem branco. Com borboletas na barriga, indecisões, sinais de desespero e dúvidas, que vão adiando o diagnóstico de “caso irremediavelmente perdido”, “incompatibilidade congénita”, ou talvez não. Talvez o diagnóstico não tenha mesmo que ser esse.
Não sei, não quero saber e já não preciso de ter certezas. Só de me sentir bem. E sinto. Entrego-me sabendo que fui vencida e fico feliz com a derrota. Guardamos o relógio e o despertador. Vamos acordar sem ruídos mecânicos, e recordar um refrão de Ella Fitzgerald: Heaven, I’m in heaven…
Partimos de carro abandonando o trânsito, perdemo-nos no caminho que não queremos voltar a encontrar. Viajo e reencontro-me em cada rua, esquina ou praça onde nunca tinha estado. Absorvo com o olhar o verde dos cenários que me rodeiam e não preciso de máquina fotográfica. Invade-me a saudade do momento presente.
Na esplanada saboreio um gelado com tempo para derreter. Não me levanto, porque ainda não recuperei forças para isso. Converso com a senhora do café, sorrio com vontade e não penso em mais nada.
Ao fim da tarde perco-me nas páginas de um livro que escolhi, e que me esperava há tanto tempo. A leitura adiada redobra o prazer: a melhor parte da discussão é o fim, o melhor da distância é o reencontro.
Recupero as energias que me farão voltar, um dia que parece distante. A concretização dos meus sonhos é importante, e depende da vontade massajada nestes dias. Tudo parece mais fácil, mais possível, mais útil. Os sorrisos voltarão a existir. Estávamos todos muito cansados nos últimos dias, esforço-me por acreditar.