sábado, outubro 25, 2008

Impossibilitada de fazer mais comentários



As (in)consequências de um zapping tardio. A rapariga entrou-me em casa com uma declaração destas, às tantas da noite, sem pedir licença. A boa notícia é que o episódio acabou e nem eu nem ela fizemos outro disparate maior.

domingo, outubro 12, 2008

Ainda Elizabethtown 2

Sem querer manifestar aqui nenhuma posição política, até porque acho cada vez mais difícil acreditar em promessas eleitorais (tendência aprofundada com os anos, que acompanha o ritmo alucinante do aparecimento dos primeiros cabelos brancos e rugas de expressão) mas acho que os homossexuais também têm todo o direito de fazer esta cara de parvos ao telefone. Mais ainda, sacrilégio dos sacrilégios, acho que eles têm todo o direito de tentar viver felizes para sempre, jurar à cara-metade que vão fazer os possíveis para que isso aconteça e ASSINAR A PORCARIA DE UM PAPEL QUE COMPROVA QUE O FIZERAM!
Sim, a minha descrença, bem como o meu tom de voz, estão a aumentar. Admito que existem ainda algumas (honrosas) excepções, daquelas capazes de se levantar em plena Assembleia, contrariando a tendência natural do seu Partido. As mesmas que fazem ver uma luzinha ao fundo de um túnel que se diz socialista, de esquerda, democrático e respeitador dos direitos humanos.

Ainda Elizabethtown



E as saudades que eu tenho de fazer esta cara de parva por estar horas pendurada ao telefone? E as saudades que eu tenho daqueles momentos em que não se diz nada por já se ter dito tudo? E as saudades que eu tenho de ninguém conseguir desligar? Sim, essas saudades todas... O que é que eu faço com elas? Alguém me consegue explicar?

terça-feira, outubro 07, 2008

Elizabethtown



«Most of the sex I have had in my life was not as personal as that kiss».

Os primeiros 90 minutos do filme são um completo disparate. Drew Baylor (Orlando Bloom) é um promissor executivo de uma bem sucedida multinacional de calçado, até ao dia em que é responsável por um fiasco que irá custar à empresa mil milhões de dólares. Isto é o que diz a sinopse. Tirei dois minutos da minha vida para ter pena do rapazinho, coitado (assume-se aqui, publicamente, uma certa implicância com o mesmo)!
Prestes a cometer suicício, recebe uma chamada da irmã que o informa da morte do pai, acontecimento que, ainda segundo a sinopse, o faz iniciar uma viagem de redescoberta interior. Mas nem um chinês teria paciência para a quantidade de disparates que lhe vão acontecendo. A crítica aplaudiu o rapazinho. O Coisas Boas da Vida acha que, se não fossem Kirsten Dunst e Susan Sarandon, o rapazinho estava bem tramado!
É suposto que o filme seja uma comédia romântica, mas a história em si não tem grande piada. No entanto, voltava a alugar (se fosse preciso, voltava mesmo a ouvir a piadinha do rapaz do video clube que me aconselhou a não ver sozinha) só para relembrar algumas citações interessantes, como a primeira e as últimas deste post:

«I'm impossible to forget, but I'm hard to remeber!»
«I'm going to miss your lips. And everything attached to them.»
«You know the way people look at you as if it's the last time? I've started collecting these looks.»
«I don't know a lot about everything, but I do know a lot about the part of everything that I know, which is people.»

quarta-feira, outubro 01, 2008

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade