segunda-feira, outubro 30, 2006

Jorge Palma

Um dia ele há-de aparecer. Como um relâmpago, mas sem luz... não sei explicar.
Vai ser uma daquelas pessoas que, sem sabermos exactamente porquê, nos despertam a atenção logo no primeiro momento. Correcção: eu não sei bem porquê, mas há quem saiba.
Os cientistas dizem que é uma espécie de química, enquanto os místicos garantem que as duas almas se reconhecem e que tudo já estava escrito.
Os românticos chamam-lhe amor à primeira vista.
Os pragmáticos, como pragmáticos que são, acreditam na pura e simples atracção física ou tensão sexual, com prazo de validade, geralmente curto.
Uma rua apinhada de gente, num dia de chuva. Cruzam-se e trocam olhares, enquanto os outros à volta deixam de existir. O momento é perfeito, como nem tudo nos dias seguintes será. Mas o que contou foi aquele instante.

8 da manhã, o despertador toca, acordo e penso: a culpa disto tudo é da indústria cinematográfica. Já no carro, o cd do costume:
Se eu fosse crítico de arte havia de declarar-te obra prima à escala mundial.
Mas eu não passo dum homem vulgar
que tem a sorte de saborear
esse teu passo inseguro e o paraíso no teu olhar...

Posso continuar à espera. Mas não te atrases...

sábado, outubro 21, 2006

Hino à ecologia


Não é possivel que você suporte a barra
De olhar nos olhos do que morre em suas mãos
E ver no mar se debater o sofrimento
E até sentir-se um vencedor neste momento

Seus netos vão te perguntar em poucos anos
Pelas baleias que cruzavam oceanos
Que eles viram em velhos livros
Ou nos filmes dos arquivos
Dos programas vespertinos de televisão

Roberto Carlos. Chamem-me o que quiserem, mas está música faz parte da minha infância e é, de facto, um hino à ecologia. Um momento de nostalgia no Coisas Boas da Vida e uma forma de passar uma mensagem importante: "Parem com a caça ilegal das baleias que ainda cruzam os nossos oceanos!".

Mais Vergílio Ferreira

- Bárbara - disse-lhe eu - como é bom voltar a vê-la.
- Deve estar confundido. Não o conheço de parte alguma.
Está bem. Suponhamos que nunca nos vimos, não a quero contrariar. Que é que isso quer dizer? Todo o amor começa antes de começar, devia saber. Começa num encontro que se não teve. E quanto mais antes, mais verdadeiro. O nosso encontro foi no eterno, que é onde vale a pena acontecer o que acontece.

Na Tua Face - Vergílio Ferreira

quinta-feira, outubro 19, 2006

A vida é uma grande escola que pouco ensina a quem não sabe ler.

Quem o disse foi um senhor chamado Augusto Cury, psiquiatra brasileiro, mas podia muito bem ser o lema do Coisas Boas da Vida!

terça-feira, outubro 17, 2006

Perfume de mulher


Todos nós temos propósitos na vida. Uns querem escalar o Evereste, outros gostariam de entrar num filme do Almodóvar, outros ainda dariam tudo para desfilar nas passereles de Paris e Milão. Eu sou uma rapariga mais modesta: gostava de saber dançar assim o tango.
É certo, também gostaria de ajudar a salvar o mundo, escrever um livro, plantar mais árvores, ter filhos. Mas saber dançar desta forma já me fazia feliz!

É um dos meus filmes preferidos. Al Pacino é Frank Slade, um tenente-coronel cego que viaja para Nova York com Charlie Simms (Chris O'Donnell), num fim de semana que planeia ser o último, antes de morrer. O acompanhante dá-lhe três razões para não cometer o suicídio, e entre elas está dançar o tango como o faz na imagem. É uma razão muito forte, para quem já viu o filme. Depois, a sensibilidade da personagem para reconhecer todos os perfumes femininos é ouro sobre azul.
E vem-me à memória uma frase de outro filme: "I just met a wonderful new man. He's fictional but you can't have everything." (The Purple Rose of Cairo).

domingo, outubro 15, 2006

Linha do horizonte



O horizonte varia consoante a altura que temos. Só não varia nunca o ser variável, enquanto horizonte que é, ainda que por absurdo se atinja. Porque não é nunca o horizonte que nos fascina mas a distância a que ele está.
A história do homem é a das utopias. Mas é decerto também a do que nelas se conquistou. Somente a utopia não pretende realizar-se, como o desejo que se cumpre não esgota o desejar. De todo o modo, após o desejo e o que se conquistou há uma pausa. E isso dá para se respirar um pouco. É quanto basta, diz o do progresso. Mas não bastou, diz o da inquietação. E a razão está com os dois. Porque se um sonha com a morte, o outro sonha com a vida, ou seja com o excesso, que é a sua medida. Deus condenou Adão não bem à infelicidade, mas a uma felicidade que fosse o seu impossível.
Nas utopias que até hoje se imaginaram faltou sempre imaginar o que aconteceria depois. Que se imagine uma vida em que se realizasse tudo o que se desejasse. Alguma coisa faltaria ainda em tudo o que já não faltava, e não saberíamos o quê. É isso que não sabes que é o fundamental.

Pensar - Vergílio Ferreira

sábado, outubro 14, 2006

Maria cheia de graça


Maria cheia de graça é uma produção independente, do realizador norte-americano, Joshua Marston. Multi-premiado e aplaudido pela crítica, o filme valeria a Catalina Sandino Moreno a primeira nomeação de uma colombiana para o Óscar de Melhor Actriz, em 2004.
O drama, diz Marston, é baseado em mil histórias verídicas. Mas Maria cheia de Graça não é apenas a história de uma rapariga de 17 anos que serve de "correio de drogas" para os Estados Unidos. Ela é essencialmente uma personagem envolvente que torna o filme realista e desconfortável desde o primeiro momento.
Desconfortável porque, não sendo chocante, nunca nos obriga a tirar os olhos do ecrã.
Desconfortável porque assistimos a tudo.
Desconfortável porque temos dificuldades em aceitá-lo.
Questões complexas com que nos debatemos diariamente nos denominados países desenvolvidos são aqui abordadas de uma perspectiva diferente. Os direitos de opção e de igualdade de oportunidades ganham novos significados, se acreditarmos que, no caso de Maria, eles ainda existem.
É a primeira longa-metragem do realizador e a primeira passagem da actriz pela sétima arte. Se a estreia nos reservou uma surpresa assim, mal posso esperar por novos trabalhos de ambos.

terça-feira, outubro 10, 2006

Sex and the City



O último episódio da série passou ontem na Sic Mulher. Fica tudo muito arrumadinho: Samantha ultrapassa um cancro de mama e apaixona-se por um rapazinho novo que a adora; Miranda opta por uma vida mais familiar, com o marido, o filho e a sogra; Charlotte adopta uma menina chinesa e a Carrie... Bem, a Carrie tenta a sua felicidade em Paris, com um artista russo. Nada corre como esperava e Big, o homem que de uma forma ou de outra acaba por nunca sair da sua vida, vem buscá-la. E ficam juntos.
Mas isso não é o mais importante. Em jeito de final não totalmente cor-de-rosa, para não desiludir os fãs menos felizes no amor, Carrie deixa uma ideia digna de citação:
"The most exciting, challenging and significant relationship of all is the one you have with yourself. And if you find someone to love the you you love, well, that's just fabulous.".
Enquanto a perfeição não existe, podemos sempre ficar com o amor por nós próprios, e esse sim deve ser cuidado, alimentado e revisto todos os dias. Olhar apenas para o próprio umbigo é uma atitude egoísta, mas não o fazer nunca é um disparate.
Há pouco tempo uma senhora com uma experiência de vida maior que a minha dizia-me: "Na vida e no amor, antes de mais nada, olhe muito bem por si. É um conselho de velha, mas eu devia tê-lo recebido quando era mais nova.".
Ela tem razão. Mas não é um conselho de velha, é um conselho de uma mulher sábia.

sábado, outubro 07, 2006

O Coisas Boas da Vida recomenda: a coluna de Ricardo Araújo Pereira desta semana na Visão.

Conhecem aquela espécie de intelectual que trata temas complexos, numa linguagem acessível a todos? Não aprecio. Mas o meu coração bate mais forte, quando se fala de Luís Freitas Lobo, colunista do Público, que faz o contrário: fala dum tema acessível a todos numa linguagem que ninguém entende. Isso é que é verdadeiramente prodigioso. (...)
Lemos um parágrafo de Freitas Lobo sobre futebol e percebemos de imediato que não temos formação suficiente para assistir ao Paços de Ferreira - Beira Mar, quanto mais a jogos da Liga dos Campeões. Ler Freitas Lobo é perceber que o futebol antigo, em que havia fintas, remates e golos morreu. No futebol moderno, basicamente, transita-se. (...) As equipas transitam que se fartam, hoje em dia. De fintas ou remates, Freitas Lobo não diz nada.(...)
Há uns 15 anos, o professor Fernando Venâncio publicou, no Jornal de Letras uma interessante recolha de textos das mais variadas proveniências, demonstrando que havia mais gente a escrevere «à Saramago» do que a ler-lhe os livros.

Será o rapaz licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa?
Porque assim de repente lembrei-me de uma professora que gostava de nos dizer que "a imagem é a modalidade específica da manifestação do ser enquanto algo que não está aí. A câmara obscura é uma amálgama social complexa, cuja existência como figura textual não é separável do seu uso maquínico.".
Teoria da Imagem e da Representação, 3º ano da faculdade, interessantíssimo. A docente ainda acrescentou, numa aparente tentativa de tranquilizar a audência incrédula: "Não há obrigatoriedade que a significação do universo visível seja imanente ao signo. Nunca o é. É sempre outro signo que a completa e lhe dá plenitude. Não é obrigatória a autonomia plena de um sistema de significação. Os vários sistemas funcionam como interpretantes uns dos outros.".
O problema era mesmo meu, que nunca fui capaz de encontrar um sistema (de entre tantos possíveis) que descodificasse as intenções sinsignicas, representamens ou discentes linguísticos da senhora.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Sabedoria africana

Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu,
mais ele encontrará
o único agasalho possível
- um outro coração.

Conselho do avô de Mia Couto, ou seja, vamos lá todos tratar de ser felizes!
E aconchegadinhos, que vem aí o Inverno...

terça-feira, outubro 03, 2006

Poesia e propaganda


Hei-de mandar arrastar com muito orgulho,
Pelo pequeno avião da propaganda
E no céu inocente de Lisboa,
Um dos meus versos, um dos meus
Mais sonoros e compridos versos:
E será um verso de amor...

Alexandre O'Neill