Déjà vu
Se a paixão for efémera e o amor uma memória, talvez o primeiro amor seja o mais perfeito, o mais puro. E se assim for, se só ele puder ser mais que tudo, é ele o único, o que não termina, aquele de quem não se pode escapar, por mais voltas que a vida dê… A teoria é formulada após dias de insistentes lembranças, reforçados pela força das saudades que não lembravam sentir, até ao dia do reencontro. Seria verdade? Só assim faria sentido aquela certeza partilhada de que o próximo beijo seria igual ao primeiro, igual ao último, igual a todos aqueles que reconstruíram separados, colocando as pontas dos dedos nos lábios e voltando a sentir-se, a estar presentes. Tinham passados anos… Se o primeiro amor fosse o mais perfeito seria o que permanece, o verdadeiro, o que justifica uma vida, o que se distingue dos outros, o que só se sente uma vez. Se um dia, à beira do rio, disserem a alguém «gosto muito de ti», enquanto trocam beijos menos inocentes que os vossos tenros anos, mesmo não sabendo que o futuro irá trazer outros caminhos, outras pessoas, outros desejos, outros corpos, tenham cuidado. Sem querer podem estar a viver o primeiro amor. Sem querer poderão um dia separar-se dele. Sem querer poderão um dia reencontrá-lo.